Tradições e Escolas do Feng Shui

Os estudos do Feng Shui Clássico podem ser divididos em duas Tradições: San-He (3 Harmonias) e San-Yuan (3 Ciclos).

  • Tradição San-Yuan

Fundada na Dinastia Tang (618–906 d.C.), é tida como a mais antiga do Feng Shui. Utiliza, como âncora, o estudo das formas da Natureza, aliado ao uso de um tipo de bússola magnética que identifica o fluxo das energias celestes e terrestres. Tais enfoques baseavam-se num profundo estudo astrológico das construções e dos moradores, e das tendências energéticas envolvendo os fatores de Tempo e Espaço.

  • Tradição San-He

Com pelo menos um milênio de idade, foi desenvolvida em meio às ricas composições paisagísticas do Norte. Muitos a denominam, erroneamente, como Escola da Forma, talvez pelo enfoque geo-morfológico no qual tal tradição se baseia. Entretanto, a Luo Pan (bússola chinesa) também é utilizada; no caso, com o intuito de apurar as formas e direções das montanhas, vales e rios.

Esclarecimentos gerais:

Existem muitas controvérsias sobre os sistemas San-He e San-Yuan. Alguns estudiosos afirmam que a primeira é mais remota, e não a segunda, como foi colocado acima. Considerando que os primórdios do Feng Shui utilizavam fatores cognitivos para categorizar o “genius loci” das paisagens (técnica essa que compõe uma das bases da San-He), então realmente tal Tradição é a mais antiga. No entanto, o conceito de Três Harmonias baseia-se não somente nisso, mas principalmente nos estudos relativos às Três Fases mais importantes do Wu Xing (Nascimento / Auge / Enterro), e, por conseguinte, na formação das 24 Montanhas da Luo Pan. Isto posto, mesmo que as bases do San-He fossem mais longínquas, o sistema teve seu aprimoramento somente durante a Dinastia Song. Na San-Yuan, por sua vez, ocorreu uma evolução muito mais rápida e estruturada, sendo considerada como Tradição desde os tempos dos Tang.

Historicamente, sempre existiu um confronto de princípios entre os dois sistemas. Nos Três Ciclos, as técnicas evoluíram num sentido matemático; os fluxos energéticos eram analisados de uma maneira clara e precisa, e nas curas, explicitam-se noções de probabilidade e códigos de eficácia. Um exemplo disso é a origem do próprio nome San-Yuan, que provém da avaliação espaço-temporal referente aos três Períodos da Energia (Superior / Médio / Inferior).

Nas Três Harmonias, com a visão simbólica mais apurada e as curas menos rígidas, o sentido filosófico da análise era muito mais exaltado do que a exatidão técnica. Provavelmente, foi devido a essa característica “genérica” que a San-He demorou a firmar como uma real Tradição de Feng Shui.

Comum também é a associação do Yin Zhai (análise de túmulos) com as Três Harmonias, e o Yang Zhai (análise das construções) com os Três Ciclos. Possivelmente, isso se deu porque o estudo do “Palácio dos Mortos” se mistura, em histórica e técnica, à própria evolução dos princípios geográficos, morfológicos e geomânticos da San-He (acreditava-se que escolha de um terreno auspicioso para os túmulos dos reis – a chamada Pérola do Dragão – garantiria a longevidade da Dinastia). Já a dinâmica do “Palácio dos Vivos” tende a se relacionar com a San-Yuan, devido à dimensão muito mais palpável e sistemática dessa Tradição, principalmente nos ramos Xuan Kong Fei Xing e Xuan Kong Da Gua.

Mesmo com as observações acima, é importante compreendermos que o Yin / Yang Zhai são métodos, não sistemas ou escolas. Dessa forma, tanto os Três Ciclos quanto as Três Harmonias possuem técnicas específicas para casas e túmulos, não sendo, a princípio, uma característica isolada de uma ou outra Tradição.

As Escolas originárias da San-Yuan

Xuan (Vazio) está relacionado com a evolução contínua e infinita da energia (explicitados no Luo Shu), enquanto que Kong (Misterioso) denotam técnicas que se estruturam num certo padrão energético. Descobrir como agem esses códigos permite-nos compreender o sentido e a especialidade de cada Escola originada na Tradição dos Três Ciclos.

  • Xuan-Kong Zi Bai (Púrpura-Branca)

Tida como uma das primeiras originárias dos Três Ciclos, baseia-se nos estudos do Quadrado Mágico. Nos dias de hoje, as técnicas divulgadas são muito simplistas, não sendo consideradas pela maioria dos Mestres contemporâneos.

  • Xuan-Kong Fei Xing (Estrelas Voadoras)

Utiliza-se do Quadrado Mágico, mas de uma maneira muito mais complexa que a anterior. Estuda as variações e probabilidades no fator Tempo & Espaço, ou seja, como o Qi se estabelece no interior da edificação (definida pela forma da paisagem) e como ele evolui qualitativamente num dia, mês, ano ou período. Atualmente, a ênfase dessa escola está nos estudos energéticos das construções em si. (Saiba Mais)

  • Xuan-Kong Da Gua (64 Hexagramas do Yi Jing)

Muito utilizada principalmente em grandes áreas abertas, tem sua origem nas interpretações matemáticas dos Hexagramas e das linhas que os compõe. Com os estudos desta última, é possível obter as melhores direções e setores para se construir, bem como os acessos mais auspiciosos ao terreno. (Saiba Mais)

  • Xuan Kong Long Men Ba Da Ju (Portão dos Dragões)

Técnicas variadas que observam as influências energéticas que as ruas, vias e avenidas causam na edificação (fluxo de entrada e saída do Qi na residência). Baseiam-se nas relações entre o Xian Tian Ba Gua (Posicionamento dos Trigramas no Céu Anterior) e Hou Tian Ba Gua (Posicionamento dos Trigramas no Céu Posterior).

As Escolas originárias da San-He

  • Xing Shi Pai (Análise Formal)

Mesmo sendo também o pilar estrutural dos Três Ciclos, nos estudos geográficos das Três Harmonias criam-se conceitos baseados no paisagismo e na percepção cognitiva do observador. Camuflada pelos símbolos, na verdade representam profundos conhecimentos “geobiológicos” (auxiliam o entendido à escolher precisamente os melhores locais para a edificação, evitando assim, as temíveis Veias do Dragão – veios aquáticos subterrâneos e linhas energéticas terrestres). As análises efetuadas com a própria Luo Pan (o chamado “balanço da bússola”) substituíram as varetas indicativas da técnica ancestral Di Mai.

  • Ba Zhai (8 Palácios)

A Escola Ba Zhai tem a sua primeira citação nos escritos dos Song, e o seu apogeu na Dinastia Ming. Utiliza as análises dos chamados 4 portais energéticos auspiciosos e não auspiciosos de uma residência, de acordo com a característica local e à compatibilidade energética com os moradores.

As inúmeras publicações (principalmente a partir dos tempos dos Qin) geraram diferentes interpretações da teoria e dúvidas sobre o método mais correto de uso, causando, ainda nos dias atuais, uma série interminável de divergências conceituais entre os praticantes. (Saiba Mais)

  • Shan Shui Long Fan Gua (Dragão da Montanha e da Água)

Complexo estudo sobre os aspectos formais e direcionais do Dragão da Montanha / meio externo “fixo” (montanhas, construções vizinhas, etc) e Dragão de Água / meio externo “móvel” (curso dos rios, ruas, avenidas, bem como a localização de lagos, “bocas d’ água”, etc) e as influências de ambos na construção. Como todas as dinâmicas San-He, as técnicas dessa Escola são inúmeras, porém pouco acessíveis até aos estudiosos. (Saiba Mais)

Comentários sobre a Técnica Ya-Bai (Geometria Sagrada Chinesa)

Escritos ancestrais revelaram a existência de um sistema métrico-energético utilizado pelos conhecedores de outrora, em complementação aos estudos do Kan Yu. Tem-se pouquíssima informação sobre esse tipo de “geometria sagrada”, não havendo indícios da sua origem especificamente em uma ou outra Tradição. Nos manuais contemporâneos costuma-se achar uma régua (supostamente copiada de um desses manuscritos ancestrais); entretanto, sabe-se apenas que a colocação dos portentos benéficos ou maléficos explicitadas e ensinadas em tais livros não estão coerentes, pois segundo alguns Mestres, tais “qualidades métricas” são mutáveis, de acordo com a proporção medida e o fator tempo.

O Feng Shui nos dias de hoje

Atualmente, o conhecimento ancestral foi reformulado em 2 Escolas Tradicionais, e várias outras foram criadas:

  • Luan Tou (Estudo de Forma)

Baseia-se na observação das formas externas, e na maneira com a qual elas influenciam as construções. Costuma ser menos apurada do que os estudos da San-He Xing Shi Pai. (Saiba Mais)

  • Li Qi (Técnicas de Bússola)

São todas as antigas tradições que utilizavam a bússola como instrumento de análise, reorganizadas agora para o estudo da paisagem contemporânea, principalmente das cidades. Muitas Lo Pans, atualmente, reúnem duas ou mais técnicas de escolas diferentes (como a San-Yuan, a San-He e até a Ba Zhai) num único equipamento.

  • Hemisfério Sul

Escola que se estrutura no fator sazonal para justificar a adaptação de todas as teorias antigas baseadas no Luo Shu, Ho Tu e Ramos Terrestres (animais do zodíaco chinês) ao hemisfério sul. Em voga nos anos 90, vem perdendo muita credibilidade nos últimos anos.

  • A Escola Americana, ou do Budismo Tântrico do Chapéu Preto

Tornou-se a mais difundida em todo o mundo, devido, em primeira instância, a facilidade de compreensão e atuação. Designa os famosos “cantos“ da casa, e incorporam rituais e atos mágicos nos processos de consagração do espaço. Mantém os conhecimentos da Escola da Forma, mas ignora o uso da bússola para as análises. É a mais intuitiva das escolas, trabalhando principalmente com o Universo Simbólico do morador como mola propulsora para se chegar à consciência do ser. (Saiba Mais)

Escolas ou Métodos baseados no Chapéu Preto

  • Oito Aspirações

Variação divulgada há menos de uma década, utiliza os pontos cardeais para direcionar as “qualidades do Ba Gua”. Alguns iniciantes confundem-na, a princípio, com a Escola Ba Zhai (8 Palácios), ou mesmo como sendo uma autêntica técnica de Bússola, o que não é verdade.

  • Space Clearing (Limpeza Energética de Espaços)

Compreendem os mais diversos tipos de limpezas energéticas, rituais e consagrações mágicas, com o intuito trazer saúde, prosperidade e proteção à vida pessoal e familiar. Possuem influências variadas, como o xamanismo, o budismo, o simbolismo chinês, entre outros. Utiliza geralmente a ordem figurada do Ba Gua para organizar o espaço de atuação.

  • Pirâmide

Amplia os horizontes simbólicos da Escola Americana, colocando valores psico-emocionais no arquétipo “dos cantos”. Baseia-se na psicologia jungiana, com um forte apelo na programação neurolinguística.

  • Vastu Shastra

Considerado o “Feng Shui indiano” (o que é um erro), possui uma estrutura analítica e simbólica totalmente diferente das tradições chinesas ou tibetanas. Costuma ser associado às técnicas de Space Clearing, e vem ganhando espaço na atualidade.

 

Por Marcos Murakami