Eras, Ciclos e Períodos – Fatores Discursivos

O tempo ocidental se baseia numa visão totalmente linear. Os anos são contados a partir de uma hipótese (data aproximada do nascimento de Cristo – ano zero); ou seja, em nenhum momento, as festas anuais estão em sincronia com os fluxos cósmicos. Já para o oriental, em particular o chinês, tudo se fundamenta em ciclos energéticos que se repetem infinitamente e refletem a própria força da Natureza.Assim, tanto o povo quanto os sábios calculavam as “probabilidades do destino” observando o movimento lunar e solar na chamada esfera celestial.

O complexo calendário utilizado na China foi construído levando-se em conta o casamento de três fatores temporais: os Troncos Celestiais (Steams), associados às expressões puras do Wu Xing (Cinco Ciclos do Qi) nas polaridades Yin (absorção) e Yang (expansão); Ramos Terrestres (Branches), que são energias misturadas e demonstram o posicionamento da Terra em relação ao Sol (para facilitar a compreensão da população, eram associados às estações do ano); e Luo Shu (números do Quadrado Mágico), método que ordena o tempo em Períodos (20 anos), Ciclos (3 períodos – 60 anos), Eras (3 Ciclos – 180 anos) e Épocas (20 eras – 3600 anos).

Aos Troncos, nos referimos:

  • 1. Jia (Madeira Yang);
  • 2. Yi (Madeira Yin);
  • 3. Bing (Fogo Yang);
  • 4. Ding (Fogo Yin);
  • 5. Wu (Terra Yang);
  • 6. Ji (Terra Yin);
  • 7. Geng (Metal Yang);
  • 8. Xin (Metal Yin);
  • 9. Ren (Água Yang);
  • 10. Gui (Água Yin);

Aos Ramos, nos referimos:

  • I Zi /Rato (Água Yin);
  • II Chou /Búfalo (Terra Yin /Água Yin / Metal Yin);
  • III Yin /Tigre (Madeira Yang /Fogo Yang /Terra Yang);
  • IV Mao /Coelho (Madeira Yin);
  • V Chen /Dragão (Terra Yang /Madeira Yin /Água Yin);
  • VI Si /Serpente (Fogo Yang /Metal Yang / Terra Yin);
  • VII Wu /Cavalo (Fogo Yin /Terra Yin);
  • VIII Wei /Cabra (Terra Yin /Fogo Yin / Madeira Yin);
  • IX Shen /Macaco (Metal Yang /Água Yang / Terra Yang);
  • X You /Galo (Metal Yin);
  • XI Xu /Cachorro (Terra Yang /Metal Yin /Fogo Yin);
  • XII Hai /Porco (Água Yang /Madeira Yang);

Os números arábicos ímpares só podem se associar com os números romanos ímpares, e as combinações entre números pares seguem a mesma lógica (Yang-Yang / Yin-Yin, respectivamente). Sessenta combinações possíveis denominados Binômios surgem das relações Tronco/Ramo, e a cada ano, um novo binômio se instaura (Macaco de Fogo Yang – 3/IX em 2016).

Já os números do Luo Shu são separados em 9 qualidades denominadas Estrelas. Cada uma se relaciona com 20 anos do nosso calendário (Períodos), e nos esclarecem sobre as predições num sentido global. Assim, teríamos resumidamente, os significados simbólico-estelares:

Branca 1 – Criatividade / Período de Paz;

Preta 2 – Doenças / Revolução na medicina;

Jade 3 – Grandes aberturas / Disputas, guerras;

Verde 4 – Relações pessoais / Evolução cultural;

Amarela 5 – Instabilidades sociais/ Guerras;

Branca 6 – Grandes corporações / Estratégia, conquistas;

Vermelha 7 – Pesquisas esotéricas / Expansão das tecnologias de comunicação;

Branca 8 – Mudança estrutural / Introspecção, busca consciencial;

Púrpura 9 – Comemorações / Aberturas intercontinentais;

O Período 8 se iniciou em 2004, e continuará regendo até início de 2024. Perceba ainda que os 60 Binômios se associam a um Ciclo (3 Períodos – 60 anos), e que a cada 180 anos (uma Era), teríamos o início de todos os calendários (Estrela 1 / Ano 1-I, Rato de Madeira Yang).

O Calendário solar chinês inicia-se no dia 3 ou 4 de fevereiro, ou seja, quando o Sol passa a 15 Graus do Signo de Aquário (momento cósmico-terrestre em que o Yin se transforma em Yang). É interessante notar que pela astrologia ocidental, a cada 3600 anos (uma Época) ocorre uma conjunção muito rara entre Netuno-Urano, Saturno-Júpiter, junto com um alinhamento especial de todos com a Terra. Outras tradições orientais, como a hindu, utilizam relações muito próximas ao contexto chinês (segundo consta, em 4564, uma nova época terá inicio). Seria o fim da Kali Yuga e o retorno ao auge do Ouro / Sat Yuga ? Especulações a parte, uma certeza é constatada: a total relação do conceito temporal descoberto pelos antigos chineses com os ciclos cósmicos naturais, e da sabedoria que talvez o mitólogo Mircea Eliade descreveu como o “Mito do Eterno Retorno”.

Por Marcos Murakami (artigo revisado em 2016)